A crise não perdoa. Afeta tudo. Vai muito alem das questões dos bolsos e dos cortes necessários no orçamento. Você vai ouvindo o noticiário e os seus sonhos vão diminuindo ou sendo adiados. Sua coragem vai desaparecendo, seu astral vai para o beleléu. É claro que a poesia não poderia ficar indiferente a esse ambiente. Por isso, pensei em um poema que se adaptasse aos novos tempos, tanto em forma como em conteúdo. Um poema que utilizasse poucas palavras para dizer muito, feito um salário que precisa chegar ao final do mês. Mas nada me ocorria. Estava meio travado, sabe. Precisava de algum estalo, algo que despertasse em mim uma inspiração para converter em poesia nossa dura realidade. Então, estava eu na rua, caminhando, como faço todos os dias, entretido com minha voz interior, quando meu pé colidiu com algo de forma violenta. Pessoas se assustaram com o barulho produzido pelo impacto. Como reação, fechei os olhos e comecei a pular num pé só, tentando conter o grito de dor. Em seguida, inúmeros impropérios apareceram em minha cabeça para dizer a seja lá quem que havia se intrometido diante de meu passo. Aos poucos fui me acalmando, fui me restabelecendo e de repente surgiu por completo, em minha cabeça, o poema que veio do pé.
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
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Brilhante. Nesse tempo de crise, se economiza até as palavras.
ResponderExcluirVê se eu entendi, Carlão. “No meio”não era que exatamente na metade, mas durante o percurso. “Do caminho”pode ser a vida da gente, o destino ou alguma coisa assim. E a “pedra’, bom, a pedra pode ser tanto o mercado financeiro como alguma pedra mesmo que caiu por causa das chuvas. Nessa época do ano é bem comum esses deslizamentos.
ResponderExcluirMuito legal. Só não gostei daquela parte da pedra.
ResponderExcluirFicaria mais legal se ao invés de pedra fosse uma gostosa. Tinha uma gostosa no meio do caminho...
ResponderExcluirO que você chutou era poesia concreta.
ResponderExcluirAcho que o poema ficou no meio do caminho. No meio do caminho ficou o poema.
ResponderExcluirmuito bom...
ResponderExcluirse a pedra estava no meio do seu caminho; porque voce não a tirou.
ResponderExcluirVocê disse p não associarem teu nome a igreja e ao capitalismo. Pois não te houviram... rezaram uma missa para ti e tua imagem foi parar em uma nota de 50 cruzados de real. Eitâ conterrâneo...
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